Perdidos no Caminho


   Há sempre processos que passam as pessoas, aonde veem-se sem uma guiatura, sem uma luz que lhe ilumine o caminho. Claro que o caminho é algo que vai construindo-se na medida que caminhamos, mas, em geral, sabemos o que nos cabe ou não fazer, ainda que hajam estes momentos que em geral denominamos “Deserto Esotérico” aonde o iniciado vê-se realmente perdido, sem um norte, sem uma compreensão do que deve, do que lhe cabe realizar.

   É muito comum que nestes momentos as pessoas destruam tudo que construíram ao longo dos processos aonde estavam iluminados por esta estrela interior, quando tinham um norte, exatamente porque desesperam-se, porque perdem a razão e os mais básicos instintos de preservação e destroem-se a si mesmos, no campo iniciático, esotérico, espiritual, e as vezes até mesmo no campo social e em questões da vida em geral.

   Quando vamos de carro por um caminho, se vemos que o caminho é intransitável, ou se o caminho termina abruptamente, ou mesmo se perdemos totalmente a visibilidade, seja por uma neblina, por chuva, ou até mesmo alguma dificuldade no veículo, o que fazemos?

   O que nos ocorre fazer quando em nossa vida cotidiana surge algo deste gênero?

   É óbvio que nos detemos no caminho e avaliamos calmamente, pacientemente, inteligentemente a situação. E se não é possível saber que caminho seguir, ou o que realizar, aguardamos o tempo necessário ali, até que seja possível dar seguimento até nosso destino, ou mesmo aconteça algum evento que possa nos dar uma luz de como proceder nesta difícil situação.

   O que não podemos é perder todo o esforço que já fizemos, seguindo o caminho sem saber realmente aonde estamos pisando, ou se é o caminho correto a seguir.

   O deserto é em geral um processo longo e penoso, aonde a pessoa realmente vê-se sem luz interna alguma, sem esperança, sem ânimo, sozinho.

   Em geral as pessoas que transcendem este deserto, o transcendem alterando seu estado anímico e integrando-se com suas partes internas. ECostumamos dizer que o fim do Deserto Esotérico é marcado por um Samadhi, onde a pessoa passa a encontrar sua luz própria.

   Normalmente o Deserto Esotérico é o processo aonde a pessoa perde a luz emprestada que tinha, que é esta compreensão alheia da doutrina e passa a pôr este motivo a viver em trevas, para que encontre sua própria luz.

   A grande parte das pessoas, ainda que se ache muito entendido e integrado com o Cristo, com a Doutrina, com a Obra, na verdade o que tem é uma luz espelhada, uma força que ele simplesmente reflete e parece que brilha mas é uma força que não provém dele mesmo, senão que é apenas uma reflexão daquilo que o cerca.

   E isto fica claro quando qualquer tema sai daquilo que está escrito ou do que já foi ensinado, porque a pessoa está presa a reflexão da luz, esta não brota dele mesmo.

   Assim que para que isto ocorra, estes espelhos internos têm de ser quebrados e a luz que tínhamos e não era nossa, para de nos iluminar e por consequência de refletir em nós, de maneira a que ficamos nestas trevas.

   Mas temos de entender que este necessário e difícil processo é exatamente o marco aonde o indivíduo submerge conscientemente nas Trevas e no Abismo ou libera-se por meio de sua própria Luz a qual aprende a fabricar com esta integração concreta com si mesmo, com sua Consciência e com a Divindade.

   Assim é como surge o Adepto, tornando-se uma força que tem um campo de gravidade próprio, e uma luz própria, bastando para si a si mesmo, no sentido de que tem em si mesmo tudo que precisa para realizar a Obra.

   E não estamos nos referindo a esta individualidade de uma maneira negativa, senão que pelo elo espiritual que tem, ele é capaz de reconhecer a verdade e de encarná-la, não está mais preso a conceitos e a teorias.

   Grande parte das pessoas que abandonaram o caminho, o fizeram durante o Deserto Esotérico. Não viram mais na doutrina do Cristo uma luz, não sentiram mais nela um alento, uma verdade, exatamente porque era o processo aonde tinham de encontrar isto dentro deles mesmos, e prepararem-se por si mesmos para manifestar esta força Cristo, não mais se valendo de teorias e de coisas alheias.

   Assim vemos que a Obra Espiritual é algo bastante difícil do ponto de vista humano, e que há diversos processos muito difíceis os quais cabe ao iniciado vencer já muito no começo de sua caminhada.



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